NOVIRUSES2BRAIN VISÃO GERAL

Sumário

Os vírus que infetam o cérebro e outras partes do sistema nervoso central são uma ameaça mundial de dimensões terríveis. Vírus como zika, dengue, chikungunya, VIH ou sarampo, por exemplo, são responsáveis ​​por milhares de vítimas gravemente comprometidas a nível neurológico, anualmente, por todo o mundo. A ameaça mais recente em larga escala nesse domínio foi um surto de vírus zika na América do Sul. O vírus zika, como o vírus da dengue ou o vírus chikungunya, é transmitido principalmente por mosquitos do género Aedes. Enquanto os vírus dengue e chikungunya, como muitos outros, podem causar doenças com graves distúrbios neurológicos, o vírus zika é muito mais terrível a esse respeito. Quando uma mulher grávida é infetada, o vírus é capaz de translocar a barreira hemato-placentária e, em seguida, a barreira hemato-encefálica, ainda em desenvolvimento, do feto, causando microcefalia e distúrbios neurológicos graves em bebés recém-nascidos. Embora coinfeções com vírus transmitidos pelo mosquito Aedes, como os vírus zika, dengue e chikungunya sejam prováveis ​​porque vários vírus coexistem no mesmo vetor, as estratégias clássicas de desenvolvimento de fármacos ignoram completamente essa realidade impressionante. Além disso, coinfecções adicionais com VIH e com o vírus do sarampo, usando outras vias de infeção, são também. Um medicamento que tenha como alvo um espectro muito grande de vírus é urgentemente necessário. É importante realçar que esse medicamento deverá ser capaz de travessar a barreira hemato-encefálica e chegar aos vírus que se localizam no cérebro. O NOVIRUSES2BRAIN é um projeto que tem como objetivo desenvolver medicamentos capazes de atravessar as barreiras hemato-placentária e hemato-encefálica, e que sejam eficazes contra os vírus zika, dengue, chikungunya, entre outros, inativando-os, incluindo durante a gravidez.
O projeto reúne especialistas em química médica, bioquímica, desenvolvimento de medicamentos e virologia, para desenvolver medicamentos capazes de inativar vários vírus no cérebro, em simultâneo.

Beneficiários e parceiros

Nome do Participante Sigla País IP
Beneficiários
Instituto de Medicina Molecular
João Lobo Antunes
iMM Portugal Miguel Castanho
Universidad Pompeu Fabra UPF Espanha David Andreu
Synovo Gmbh Synovo Alemanha Michael Burnet
Parceiros
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ Brazil Andrea Da Poian
Universidade Federal de São Paulo UNIFESP Brazil Katia da Conceição

Detalhes

Título ''One size fitts all” Um medicamento único para erradicar simultaneamente várias espécies de vírus do sistema nervoso central de indivíduos coinfectados
Acrónimo NOVIRUSES2BRAIN
Agência Financiadora Comissão Europeia
Programa Financiador H2020-EU.1.2.1. - FET Open
Convocatória / Tópico FETOPEN-01-2018-2019-2020 - FET-Open Challenging Current Thinking
ID do contrato de concessão 828774
Data de início 2019.09.01
Duração 60 Meses
Investimento Total Contribuição EU: 3 933 965,63€
Coordenador do Projeto Miguel Castanho (Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), Portugal)
Beneficiários do Projeto - Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), Portugal
- Universidad Pompeu Fabra (UPF), Spain
- Synovo Gmbh (Synovo), Germany
Parceiros do Projeto - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil
CORDIS https://cordis.europa.eu/project/rcn/220067/factsheet/en

Introdução Científica

  • Os vírus Dengue e Chikungunya podem causar distúrbios neurológicos, mas o vírus Zika é ainda mais terrível. Quando uma mulher grávida é infectada, o vírus Zika é capaz de translocar a barreira hemato-placentária e a barreira hematoencefálica em desenvolvimento do feto, causando microcefalia e graves distúrbios neurológicos aos recém-nascidos, além de ser potencialmente prejudicial para a mãe (Yuan et al., 2017).

 

  • Os vírus Zika, Dengue e Chikungunya são transmitidos por mosquitos do género Aedes. Muitas das regiões tropicais do mundo oferecem condições apropriadas para os mosquitos Aedes. Nos últimos 30 anos, devido às mudanças climáticas, a distribuição e o impacto na saúde pública desses vírus aumentaram dramaticamente, causando uma ameaça global (Leta et al., 2018).

 

  • Embora a COVID-19 seja considerada uma doença respiratória, o SARS-CoV-2 afeta vários sistemas, incluindo o sistema nervoso central. Embora recentemente descoberto, já foi demonstrado que o vírus SARS-CoV-2 está presente em neurónios do cérebro humano e de ratinhos (Song et al., 2020).

 

  • As coinfecções com vírus Aedes, como os vírus Zika, Dengue e Chikungunya, são prováveis ​​porque várias espécies virais podem coexistir no mesmo vetor. Ainda assim, as estratégias clássicas de desenvolvimento de medicamentos negligenciam essa realidade surpreendente. Além disso, também são possíveis coinfecções com vírus VIH, SARS-CoV-2 e sarampo, todos eles capazes de se acumularem no cérebro (Salvo et al., 2020).

 

  • Recentemente, o laboratório de Miguel Castanho descreveu péptidos de penetração celular que têm a capacidade de translocar a barreira hematoencefálica. Os péptidos obtidos da proteína da cápside do vírus da dengue têm a capacidade de chegar ao cérebro e distinguem-se como veículos ideais para atravessar essa barreira fisiológica (Neves et al., 2017) (Figura 1).

 

Figura 1 – Sequência da proteína da cápside do vírus da dengue (DEN2C). DEN2C é uma proteína de 12 kDa, com 100 resíduos de aminoácidos. A proteína é formada por quatro domínios helicoidais: α1, α2, α3 e α4, designados PepH1, PepH2, PepH3 e PepH4, respectivamente, e que foram estudados como translocadores da barreira hematoencefálica (Neves et al., 2017).

 

  • Modelos in vitro serão utilizados ​​para investigar se as moléculas têm a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica (Neves-Coelho et al., 2017) (Figura 2).

 

Figura 2 – O modelo de barreira hematoencefálica in vitro consiste num sistema transwell com duas câmaras separadas e com um filtro permeável no qual as células são colocadas. O lado superior, ou lado apical, corresponde ao lado do sangue, enquanto o lado basolateral (câmara inferior) corresponde ao lado do cérebro (Neves-Coelho et al., 2017).

 

Referências bibliográficas:

Leta S, Beyene TJ, De Clercq EM, et al. (2018) Int J Infect Dis., 67:25-35.

Neves-Coelho S, Eleutério RP, Enguita FJ, et al., (2017), Molecules, 22(10):1753.

Neves V, Aires-da-Silva F, Morais M, et al. (2017) ACS Chem. Biol., 12(5):1257–1268.

Salvo CP, Lella ND, López FS, et al. (2020) Medicina, 80(Supl. VI):94-96.

Song E, Zhang C, Israelow B, et al. (2020) J Exp Med., 218(3):e20202135.

Yuan L, Huang X-Y, Liu, Z-Y et al. (2017) Science, 358(6365):933-936.